Polícia Civil (Foto: Sinclapol)

Trabalho em excesso, salários defasados e rotina desgastante afetam policiais civis com doenças físicas e psicológicas.

A falta de investimentos na segurança pública coloca em risco a saúde e a vida de policiais, principalmente civis. Depressão, drogadição e alcoolismo assombram os corredores das delegacias de polícia e levam à morte, segundo o presidente do Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná (Sinclapol), Fábio Rossi Parddal Drummond. O caso mais recente foi o do investigador Edenilson Soares Batista, ocorrido no último sábado (23). Ele sofria de depressão. “A nossa atividade é muito estressante. Por vezes absorvemos a dor das vítimas, nos envolvendo emocionalmente”, disse um policial ao Portal RSN.

Segundo o investigador, a sobrecarga de trabalho, a baixa remuneração, o efetivo reduzido e a discriminação da sociedade, contribuem para agravar a situação. Além do mais, não existe nenhum acompanhamento psicológico nas subdivisões e muito menos, avaliação no momento de admissão profissional. Para o delegado-chefe da 14ª Subdivisão Policial de Guarapuava (SDP), Rubens Miranda Júnior, o Estado deveria exigir uma avaliação psicológica de todos os policiais.

“Fica muito difícil para os cargos de chefia perceber que determinado policial enfrenta problemas e exigir que ele busque um tratamento.”

Para o presidente do Sinclapol, um dos principais gargalos da profissão é imposta pela sociedade e absorvida pela categoria.

“Quando o policial sai da academia recebe o rótulo de super-homem pela sociedade e pelos colegas. Por causa disso, não busca ajuda em nenhum sentido.”

“Quando alguém precisa tem que pagar do próprio bolso”, reclama um dos investigadores da 14ª SDP. De acordo com Parddal, o descaso do Governo para com a categoria se agrava diariamente também pelas precárias condições de trabalho e pelos baixos salários.

“O Governo não nos olha como seres humanos e nos faz deixar de sermos cidadãos. Somos pessoas, temos família, sentimos fome, choramos, sentimos dor.”

O estresse no dia a dia pode gerar exageros na atuação dos policiais. “Os problemas com a saúde mental normalmente são silenciosos”. Segundo Parddal, para se ter uma ideia da gravidade da saúde da categoria, somente nos últimos 15 meses, sete suicídios foram cometidos no Paraná. “Mesmo assim, há muito descaso”.

De acordo com pesquisa feita pelo Portal RSN, a lei estadual (nº 14.448/2007) exige que todos os agentes das forças de segurança do Paraná devem passar a cada 12 meses por uma comissão psicossocial. Mas há 12 anos, desde que a lei foi sancionada, as instituições não se estruturaram para atender a demanda.

A falta de atendimento adequado à saúde mental dos policiais paranaenses pode acarretar em uma série de consequências, como informa Parddal.

“A situação é muito grave. A depressão atinge números alarmantes. Os índices de alcoolismo e de drogadição são muito altos. Vivemos num estado de tensão diário, de pressão por parte sociedade e da instituição que nos cobram muito, gerando doenças físicas e psicológicas e ninguém faz nada.”

Ele também observa que não existe nenhuma avaliação no momento em que o policial é admitido. “O que tem de doido entrando na polícia”, diz. De acordo com Parddal, ainda esta semana ele esteve em reunião com o secretário de Segurança Pública, general Luiz Felipe Kraemer Carbonell, para tratar dos problemas que atingem a categoria. “O policial civil está desmotivado, desolado, deprimido. Não há investimento no profissional, na estrutura da polícia. É uma vergonha”.

Na 14ª SDP, por exemplo, o efetivo é menor do que em 2000. Nesse ano, existiam 17 escrivães e 40 investigadores. Nove anos depois, em 2019, trabalham nove escrivães e 25 investigadores. Entretanto, é preciso computar os plantões, os profissionais que atuam na área administrativa, no cargo de chefia.

“Temos apenas sete em campo para uma carga de 1,7 mil inquéritos em trâmite; cumprir plantão”. De acordo com um dos investigadores da Polícia Civil de Guarapuava, a média é de 12 flagrantes em 24 horas. “Cada flagrante varia em torno de 45 minutos a seis horas. Já tivemos 10 pessoas presas numa só vez. É muito desgastante. É desumano”.

Por ano, são feitos 6 mil boletins de ocorrência. Os escrivães, muitas vezes, atuam 12 horas durante o dia e ficam em alerta para qualquer urgência na madrugada, numa escala de serviço que seria de 24 horas de trabalho por 72h de folga. “Conseguimos fazer as coisas porque somos setorizados, mas não conseguimos trabalhar a contento”, diz um dos investigadores.

A questão salarial também contribui para o desgaste policial. Há três anos sem reajuste, contando apenas com a correção inflacionária, os policiais enfrentam o mesmo problema dos demais servidores públicos estaduais.

CONCURSO

Está em trâmite o concurso público que prevê a contratação de 100 escrivães no Paraná. A primeira fase já aconteceu, mas ainda restam outras. Porém, nenhuma data está agendada. De acordo com o Sinclapol, a defasagem é de 1,4 mil escrivães. “Temos a metade desse número”, disse Parddal. Já no setor de investigação, a defasagem é em torno de 40%.

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA

A Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná informou que a Polícia Civil tem um Centro de Psicologia Jurídica e Atendimento Multiprofissional (CPJAM), que presta atendimento psicológico e social aos policiais civis desde 1994. Em relação ao concurso, foi informado que que já saiu a convocação para o exame de higidez física e até outubro deste ano todas as etapas serão concluídas.


Fonte: Rede Sul de Notícias
Link da matéria: https://redesuldenoticias.com.br/noticias/profissao-perigo-depressao-e-outras-doencas-assombram-os-corredores-das-delegacias/

*Reportagem atualizada para inclusão de informação às 9h do dia 27/02.