São Paulo, um dos principais distritos policiais da região, vive um cenário de caos administrativo que compromete seriamente a eficiência dos serviços prestados à comunidade. Há meses, delegacias operam sem papel sulfite, uma situação tão crítica que os próprios policiais tiveram que custear o material para garantir a impressão de Boletins de Ocorrência e peças de flagrantes.

O problema se agrava com a escassez de recursos humanos. Às vezes, com apenas um escrivão na chefia, a situação se torna ainda mais complicada quando ele entra em período de férias. Apesar dos apelos da chefe dos escrivães ao setor seccional para enviar ao menos um reforço, nenhuma providência é tomada, deixando os distritos em uma posição de extrema vulnerabilidade operacional.

Frotas escassas e inoperáveis

Outro ponto crítico é a frota de viaturas da Polícia Civil. Embora exista um setor de transportes, as viaturas frequentemente quebram, ficando muitas vezes inutilizáveis. A solução encontrada pelos investigadores é custear do próprio bolso os reparos necessários ou recorrer à generosidade dos comerciantes locais para garantir que possam continuar suas atividades.

No pátio da polícia civil, próximo ao Palácio da Polícia, uma cena chocante: diversas viaturas em excelente estado, deixadas ao relento e cobertas de poeira, com pneus murchos. Uma situação que contrasta com o cenário de necessidade enfrentado diariamente pelos policiais que dependem desses veículos para executar suas funções.

Recentemente, o governo Tarcísio anunciou a compra de 2000 novos veículos modelo Creta da Hyundai, com a promessa de entregá-los até o final de 2024 exclusivamente para a Polícia Militar. Essa medida levanta questões sobre a prioridade dada à Polícia Civil, que enfrenta sérios problemas de frota enquanto suas viaturas descaracterizadas são reservadas para diretores e delegados, muitas vezes usadas para fins pessoais, como transporte para casa.

O SIPESP, como único representante legal dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo, realizou visitas em vários distritos do Demacro e está em processo, junto ao departamento jurídico, para tomar providências.

“O SIPESP tem o dever de, como Sindicato de representação, receber essas denúncias. No entanto, elas não são novas. É algo recorrente que temos que resolver e tentar resolver, promover melhorias para os nossos colegas que enfrentam essas humilhações diárias no ambiente de trabalho”, disse o presidente do SIPESP, João Batista Rebouças da Silva Neto. “É inegável a desigualdade no tratamento das viaturas entre os gestores e os policiais de rua, que continuam a enfrentar condições de trabalho precárias, utilizando veículos antigos e frequentemente com problemas mecânicos graves como freios e embreagem comprometidos”, disse.

O SIPESP também identificou que, em algumas seccionais, há uma média de 3 policiais, em sua maioria escrivães, que são assistentes de um escrivão-chefe. “Nada justifica esta má administração de pessoal. Enquanto alguns distritos clamam por escrivães, outros estão ‘encostados’ nas seccionais”, apontou a avaliação do presidente do Sindicato.

Para Rebouças, esse contraste evidencia uma priorização equivocada na distribuição de recursos e equipamentos dentro da estrutura da Polícia Civil do estado.

Questionamentos ao governo

Enfrentar um governo que se cala diante desse quadro alarmante é difícil. Mas precisamos saber do governo estadual:

  1. Por que a Polícia Civil, responsável por investigações cruciais, enfrenta uma escassez tão severa de recursos básicos como papel sulfite?

  2. Qual a justificativa para a compra exclusiva de 2000 novas viaturas para a Polícia Militar, enquanto os distritos da Polícia Civil sofrem com uma frota obsoleta e inadequada?

  3. Por que diretores da Polícia Civil têm acesso prioritário a duas viaturas – sendo uma para ir e voltar do trabalho e outra parada em caso que a primeira tenha problemas -, enquanto os policiais que estão nas ruas, expostos ao perigo diário, são obrigados a trabalhar com veículos em condições precárias?

Essas são perguntas que precisam ser respondidas para garantir que a Polícia Civil de todo o estado tenha as condições mínimas necessárias para cumprir sua missão de proteger e servir à população. A falta de resposta adequada a esses questionamentos coloca em risco não apenas a eficiência operacional da polícia, mas também a segurança de todos os cidadãos que dependem dos serviços prestados por esses profissionais.