Palavra do Presidente

Como presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo, tenho o dever de levantar a voz em nome dos valorosos policiais civis que dedicam suas vidas à proteção da sociedade. Infelizmente, a realidade enfrentada por esses profissionais revela um cenário de abandono e descaso que tem minado a moral e a dignidade de nossa corporação. A Polícia Civil do Estado de São Paulo, que deveria ser um pilar de segurança e justiça, está mergulhada em uma crise sem precedentes.

Nos últimos anos, temos feito diversas denúncias sobre as condições de trabalho degradantes enfrentadas pelos policiais civis. Em delegacias por todo o estado, nossos colegas têm sido submetidos a situações inaceitáveis, que vão desde a falta de equipamentos básicos até o uso indevido de seus esforços para tarefas que não condizem com a função policial. O mais recente escândalo, que tem sido amplamente divulgado, é a prática forçada de policiais realizarem serviços de limpeza, sendo apelidados, de maneira humilhante, de “Faxipol”.

Essa situação grotesca não só desvia o policial de suas verdadeiras funções — como investigar crimes, proteger a sociedade e manter a ordem pública —, como também simboliza a falência do sistema de segurança pública no que diz respeito ao respeito e à valorização dos profissionais que o compõem. O policial civil é treinado e capacitado para ser um defensor da lei, mas está sendo reduzido a faxineiro em suas próprias unidades de trabalho. A falta de funcionários de apoio é outro sintoma dessa gestão caótica.

Em algumas delegacias, a precariedade vai além. Policiais têm relatado que não há sequer papel higiênico ou materiais de escritório, como folhas para impressão e canetas, para que possam desempenhar suas atividades mínimas. Sem as ferramentas necessárias, a burocracia e a investigação se tornam ainda mais difíceis, e o atendimento à população é prejudicado. Não é raro ver policiais tendo que desembolsar do próprio bolso para comprar itens essenciais ou depender de doações para manter o funcionamento da delegacia.

A cada nova denúncia, a resposta da Secretaria de Segurança Pública (SSP) é a mesma: ou negam os fatos ou afirmam que “medidas cabíveis estão sendo tomadas”. No entanto, as condições de trabalho seguem se deteriorando, e a confiança dos policiais em qualquer tipo de providência se dissolve a cada dia. Essa postura de omissão não apenas agrava o problema, mas também expõe a falta de compromisso das autoridades com a segurança pública.

O que está em jogo aqui não é apenas a dignidade dos policiais civis, mas a segurança da população como um todo. Uma polícia desmotivada, sem recursos e sem o mínimo respeito institucional, não pode cumprir com eficiência seu papel de garantir a lei e a ordem. O impacto disso é sentido diretamente no aumento da criminalidade e na sensação de insegurança que permeia o Estado de São Paulo.

Nós, do Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo, continuaremos denunciando essas condições deploráveis e exigindo respostas reais. Não aceitamos que nossos policiais sejam desvalorizados a esse ponto, e não descansaremos enquanto não houver uma mudança significativa. Reivindicamos a contratação imediata de funcionários de apoio para as delegacias, a regularização do fornecimento de materiais básicos e, acima de tudo, o respeito à função policial.

A decadência da Polícia Civil não pode ser ignorada. É hora de a sociedade tomar conhecimento da verdadeira face do descaso com a segurança pública no estado e exigir mudanças. Afinal, a segurança do povo de São Paulo depende diretamente das condições de trabalho daqueles que arriscam suas vidas para protegê-lo. É preciso agir agora, antes que a situação se torne irreversível.

João Batista Rebouças da Silva Neto
Presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo (SIPESP)