Levantamento comparando os salários dos investigadores e carreiras correlatas de São Paulo ao resto do Brasil revela necessidade de atenção ao maior estado do País.
Não é novidade que o salário dos integrantes da Polícia Civil do Estado de São Paulo está defasado e a desigualdade salarial fica ainda mais evidente quando é colocada lado a lado com o holerite de colegas de todo o Brasil.
A análise comparativa dos salários dos policiais civis no Brasil, especialmente dos investigadores de polícia, revela grandes discrepâncias entre os estados. O salário dos policiais civis de São Paulo, o estado mais populoso e economicamente desenvolvido do país, é um dos pontos centrais dessa discussão. Enquanto São Paulo possui uma das forças policiais mais atuantes, a remuneração dos seus investigadores de polícia é frequentemente apontada como baixa em comparação a outros estados.
O Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo, em sua última publicação “Polícia Real x Polícia Ideal”, trouxe dados mais profundos e alarmantes sobre o que aguarda a categoria.
Abaixo, pode-se conferir uma análise comparativa dos salários de investigadores de polícia civil em São Paulo e em outros estados, com diferenças percentuais, de forma mais resumida.
1. Tabela Comparativa dos Salários de Investigadores de Polícia Civil por Estado (2023):
*Com informações do Anuário Brasileiro de Segurança, CIDESP e Recursos Humanos das Polícias – números podem sofrer algumas variações de outras fontes de pesquisa.
2. Análise Comparativa dos Salários:
> Distrito Federal (DF): A Polícia Civil do DF oferece um dos maiores salários iniciais do país, com uma diferença de +95,7% em relação ao salário inicial de São Paulo. Já no topo da carreira, a diferença também é significativa, +61,4% a mais que em São Paulo. O DF justifica os altos salários com a necessidade de acompanhar o custo de vida na capital federal, além de ser um centro estratégico de segurança.
> Minas Gerais (MG): Comparado a São Paulo, Minas oferece um salário inicial +20,8% maior. Essa diferença diminui na fase final da carreira, com apenas +8,7% de diferença para São Paulo.
> Rio de Janeiro (RJ): O investigador de polícia no Rio de Janeiro inicia com +30,8% a mais de salário do que em São Paulo. No final da carreira, essa diferença se estabiliza em +14,1%. A demanda por segurança pública no RJ, principalmente devido ao histórico de violência, pode justificar essa disparidade.
> Paraná (PR): O Paraná mantém uma diferença similar a outros estados do Sul, com +20,8% a mais no salário inicial em comparação a São Paulo. No final da carreira, a diferença cai para +12%.
> Rio Grande do Sul (RS): Investigadores no Rio Grande do Sul recebem +32,6% a mais no início de carreira, e essa diferença aumenta para +25% no topo. A tradição forte de segurança pública no estado, além de sua economia, pode explicar o aumento.
> Santa Catarina (SC): Um dos estados com os maiores salários, oferece +37,5% a mais no início e +30,4% no final da carreira. SC se destaca como um estado com boa qualidade de vida, o que pode refletir também no incentivo para profissionais da segurança.
> Mato Grosso (MT): Com uma grande diferença no salário, Mato Grosso paga +50,1% a mais no início da carreira do que São Paulo, e essa diferença chega a +44,1% no topo. A forte atuação contra o crime organizado na região fronteiriça pode ser uma razão para os altos salários.
> Bahia (BA): A Bahia apresenta uma exceção na comparação, oferecendo -14,6% a menos do que São Paulo no salário inicial e -14,1% a menos no final da carreira. O estado tem uma das remunerações mais baixas do país para policiais civis.
Uma realidade danosa
A análise mostra que os policiais civis de São Paulo, em especial os investigadores, recebem remuneração inferior à de vários estados, incluindo o Distrito Federal, estados do Sul e Mato Grosso. Enquanto em São Paulo o salário inicial está em torno de R$ 4.800, outros estados chegam a pagar quase o dobro para o mesmo cargo, como o Distrito Federal. A diferença percentual com alguns estados, como SC e MT, chega a mais de +50%.
Essa disparidade de salários, especialmente em um estado com altos índices de criminalidade e um dos maiores contingentes de policiais civis do país, levanta discussões sobre a valorização da categoria em São Paulo e a necessidade de possíveis ajustes salariais. A discrepância pode ser explicada pelas diferentes demandas de segurança, custo de vida e políticas salariais locais.
De qualquer maneira, esse ano São Paulo não teve qualquer anúncio ou explicação sobre o reajuste salarial e a reposição anual da inflação. “O SIPESP e outros inúmeros sindicatos têm sido categóricos ao procurar o Governo por uma resposta sobre o salário da Polícia Civil. O silêncio do governador é o que esperávamos: ele realmente não está compelido a olhar para a Segurança Pública de São Paulo”, lamentou o presidente do SIPESP, João Batista Rebouças da Silva Neto. “Estamos ficando cada vez mais e mais distantes do ideal”.