Responsável por trazer à América Latina a Taser e o aparelho de tiro virtual DART, disponível atualmente apenas no SIPESP, Saba conta a real proposta da prática adotada pelas polícias mais especializadas dos Estados Unidos.

As instituições responsáveis pela segurança da população hoje enfrentam uma nova e mais violenta realidade. Dos 385 policiais assassinados em 2017, 91 estavam no horário de serviço quando foram mortos e 294 foram mortos fora do horário de trabalho.

O outro lado da moeda também mostra que o despreparo da polícia brasileira integra números exorbitantes. De acordo com dados do 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2017), 5.144 pessoas foram mortas em decorrência de intervenções de policiais. Isso representa 14 mortos por policiais por dia.

No entanto, para mudar esse quadro é necessário mais treinamento e adaptado para a realidade das ruas. De acordo com os policiais ouvidos pelo SIPESP durante as quartas-feiras do curso de tiro virtual oferecido pela instituição, caso eles não se dispuserem a pagar do próprio bolso, tanto policiais militares e civis, podem passar longos períodos sem disparar um único tiro.

E, caso queiram, o insumo chega a custar quatro vezes mais no Brasil devido à ausência de concorrência no mercado e a limitações legais para importação fazem com que os treinos de tiros, cheguem a custar cerca de R$100 para uma sessão com 50 tiros.

Diante dos fatos, o SIPESP resolveu agir e adotar medidas que assegurassem a vida daqueles que trabalham para tornar as ruas mais seguras. Em contato com a USPIT (U.S. Police Instructor Team), ficou decidido que o aparelho DART seria disponibilizado aos policiais, na sede do Sindicato, que tivessem interesse em melhorar as práticas de tiro.

O sheriff e diretor do USPIT, Charles Saba, que tem mais de 20 anos de experiência em treinamento policial e capacitação de profissionais na área da segurança, possui um histórico de sucessos em segurança aplicada, no ensino de policiamento comunitário, proteção vip e Swat, além de ter sido o responsável por implantar o taser (arma de eletrochoque). Saba esteve, no último dia 23 de janeiro, no SIPESP para acompanhar o treinamento dos policiais e falar sobre a principal proposta do DART.

Jornal do SIPESP: Qual foi a sua ideia ao trazer o sistema DART para o Brasil?
Charles Saba: Eu estou envolvido com o Brasil há muito tempo. Eu implantei a taser aqui, junto aos juízes e policiais brasileiros. No Brasil, o SIPESP é o único que detém o sistema DART, que está sendo lançado em conjunto com os EUA.

JS: Quem criou o sistema?
CS: A USPIT está encarregada de criar o treinamento. O equipamento foi desenvolvido por cientistas da NASA, que fizeram um núcleo para elaborar esse tipo de simulador. Aí juntamos a expertise dos cientistas com o conhecimento de rua da nossa equipe, policiais instrutores. O aparelho está sendo comprado em larga escala pelas polícias dos EUA e estamos apresentando internacionalmente somente ao Brasil.

JS: Qual é a proposta do sistema DART?
CS: Esse sistema foi criado para reduzir gastos. Precisamos criar memória muscular nos policiais. É necessário dar 5, 8 mil tiros por semana. A questão é o que você quer do seu policial. Qual o seu objetivo final?

JS: Qual o motivo de o Brasil ter sido o primeiro país a ser escolhido para a implantação do DART?
CS: Porque se passa aqui, passa em qualquer lugar do mundo. O mercado brasileiro é enorme e está acordando ao fato de que a segurança pública é dever de todos nós. Todo mundo entendendo que a segurança pública é dever de todos na rua, esse conceito se consolida e aí para promotor para de tentar prender polícia. Nós [americanos] achamos isso muito engraçado essa situação de o policial atirar, matar o bandido e ainda ser preso.

JS: Como seria essa situação nos EUA?
CS: O bandido toma um refém, a polícia chega, entra em confronto, a polícia atira de volta – fazendo o dever de todos nós -, e mata, acidentalmente o refém. Por exemplo, o responsável é o bandido, o comparsa, o cara do carro de fuga, o outro que queimou o ônibus, o outro que faz lanche para eles, vai todo mundo para a prisão perpétua. Todos são co-conspiradores em primeiro grau. Vai todo mundo para a cadeia e nunca mais saem. Isso é lá. Tem 38 estados que vão executar o sujeito, mas normalmente é prisão perpétua. O policial é meramente a arma que o bandido usou para matar o refém. Foi o bandido que causou o tiro que matou o refém. Me dê um argumento onde devemos prender um policial. Me dê um argumento, eu vou lá e algemo o sujeito. Por isso nós temos aqui o “não vou para a rua, não, chefe”.

JS: O senhor acredita que o Brasil enfrenta uma resistência com relação à esse novo sistema de treinamento?
CS: Há tantas resistências, em tantos níveis. É até difícil enumerar. O trabalho de adoção é um trabalho de abrir os olhos. O administrador tem outras prioridades e tem alguns que levam isso para o nível inferior em termos de urgências. Então o administrador está preocupado com a próxima explosão da semana. E o treinamento é uma coisa que não chama muito a atenção. O treinamento só é lembrado quando alguém faz alguma coisa errada. Aí todos dizem: “E o treinamento?”. Não teve. Esse é o problema.

JS: De que forma o treinamento virtual é importante para os policiais?
CS: A ideia é fazer eles saberem como atirar. Sob estresse, na rua, você não faz alguns movimentos. O movimento fino do policial sob estresse vai embora. Então ele tem que usar os longos, os músculos maiores. E isso é memória muscular. Não é o ‘bang’, não é o retorno, não é o tiro; é o tiro junto com a memória do músculo, é isso que está em treinamento. Manter o nível de estresse mais baixo, não mudar a personalidade quando o policial empunhar uma arma e ter um tiro certeiro, mesmo quando os movimentos finos vão embora.

JS: O treinamento ajuda em situações reais?
CS: Isso aqui é uma arma simulada. Você está com seu parceiro ferido, sangue dele no seu uniforme ou na sua roupa, o confronto em atividade, as pessoas atrás de você pedindo socorro, você tem uma cena dessa e você precisa resolver. E agora o que você faz? Aí entra esse treinamento.

JS: Qual o tempo de treinamento ideal por semana?
CS: Não há um tempo recomendado. O recomendado é o que você acha que é o bastante para você, policial. Você está confortável com mil tiro? Está confortável com 5 mil? Eu já não estou confortável com esse policial. O treino tem que ser constante ao longo da carreira. E reze para que não precise entrar em um confronto em que seu judô verbal não segure a onda. E é um judô verbal diário.

JS: O DART é uma nova esperança para as polícias?
CS: O sistema DART é o que tem de melhor porque foi concebido por pessoas que estão nas ruas. É uma plataforma aberta, não há cobrança em cima disso e ainda tem um treinamento extremamente eficaz. Atendemos as cobranças que fazemos em cima de nós mesmos, para treinar da melhor forma possível o policial do primeiro país a adquirir esse equipamento.

Agende agora o seu treinamento
Para participar, basta entrar em contato com a secretaria do SIPESP pelo telefone (11) 3326-8307. O curso é realizado todas às quartas-feiras, em três horários: às 14h, às 15h e às 16h na sede do SIPESP, na Avenida Cásper Líbero, 58 – 7º andar. O curso está disponível para grupos de até 30 pessoas.