Policiais do DISE Guaratinguetá já deram mais de 200 palestras sobre drogas; com o sucesso da iniciativa, modelo está sendo levado para outras cidades da região.
A conscientização sobre as drogas é uma questão que tem norteado os profissionais responsáveis pela segurança e bem-estar dos cidadãos paulistas. Pensando nisso, na cidade de Guaratinguetá, policiais civis do DISE (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) se organizaram para realizar um sério trabalho de informação sobre a gravidade das drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, entre a população da região.
Criada em 2012, a iniciativa surgiu quando os policiais Jeferson Luis Gonçalves e Luiz Fernando Gabriel de Oliveira decidiram cumprir mais um dever como cidadãos: com o alto envolvimento de adolescentes no tráfico e no consumo de drogas, eles deram início às palestras sobre o tema nas escolas.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo de cocaína, crack e opioides vem se agravando no Brasil: o uso dessas substâncias saltou de 0,8% para 7,3% na última década. E fica ainda pior quando os dados são separados por gênero. Adolescentes de 13 a 17 anos do sexo feminino representam a maior alta no índice de usuários: de 6,9% para 9,2% nesse mesmo período. O uso de drogas foi mais intenso entre os alunos das escolas públicas (9,3%) do que entre os de escolas privadas (6,8%).
Os mais de 20 anos de carreira na Polícia Civil prepararam ambos para uma nova jornada, dessa vez, como Policiais de disciplina e conscientização.
A iniciativa
O papel de proteger os jovens é dado, principalmente, aos pais, aos professores e à escola e, por isso, as intervenções dos palestrantes são baseadas em informação e não no medo.
Com a apresentação de dados convertidos para a realidade, a transformação dos jovens, de acordo com Jeferson, acontece “através da informação correta a respeito dos malefícios da droga e da conscientização”, afirma. Nas escolas, as palestras são direcionadas a alunos de 10 a 20 anos – grupo considerado mais vulnerável ao uso de entorpecentes.
No entanto, a iniciativa também é levada para as empresas. “Nas empresas nós falamos sobre o álcool e tabaco, além das drogas ilícitas, devido ao SIPAT”, explica. O SIPAT – Semana Interna de Prevenção a Acidentes de Trabalho – é uma semana voltada à prevenção, tanto no que diz respeito a acidentes do trabalho quanto a doenças ocupacionais ou não.
As palestras acontecem praticamente toda semana, quando os dois policiais visitam uma escola pública ou particular para falar sobre as causas, efeitos e consequências do uso de drogas para a saúde, além das consequências jurídicas que poderão ser enfrentadas.
O diretor da Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá (FEG/UNESP), professor Alexandre afirma que buscou o auxílio e orientação junto ao DISE por conta de alunos envolvidos com álcool e drogas. “Quando divulgamos que seria uma palestra sobre o tema ‘drogas’, foi um pouco mal aceito por parte do público, visto que palestras sobre isso geralmente são cansativas e acabam caindo na mesmice. Pouco tempo após o início da palestra o público interagiu muito com os palestrantes e foi excelente o dinamismo e enfoque utilizados por eles”, afirmou.
Para Areco, a palestra foi importante para os alunos do colégio técnico. “Foi trazida a realidade nua e crua do que o uso de drogas pode causar a cada um e à família”, disse. “Percebemos que muitos adolescentes não têm realmente ideia do que está por trás daquele momento de euforia, alegria e prazer proporcionado pela droga. Realmente muitos deles, durante a palestra, mostraram isso”.
“Acredito que foi fantástica a atuação dos palestrantes, tanto que já estão convidados para no início de 2019 para nos brindar com uma nova apresentação direcionada aos pais de alunos ingressantes”, anunciou o diretor da FEG.
A iniciativa já alcançou, entre escolas municipais, estaduais, empresas, escola de aeronáutica e igrejas, mais de 200 palestras para cerca de 10.000 pessoas das cidades de Guaratinguetá, Lorena, Potim, Cunha, Cruzeiro, Cachoeira Paulista e Taubaté.
Apesar do sucesso, os idealizadores e palestrantes enfrentam dificuldades para dar andamento à iniciativa. “Nós não temos datashow, computador ou caixa de som. Todo o trabalho que temos feito é com o material que as escolas ou as empresas têm na hora”, desabafa Jeferson. “É meio na raça mesmo”.
Reconhecimento
Mesmo enfrentando dificuldades para continuar, em reconhecimento à iniciativa, no dia 31 de agosto a Câmara Municipal de Piquete, em documento assinado pelo Vereador Claudinei Luiz de Moraes, publicou uma moção de aplausos pelo “brilhante trabalho realizado” pelos policiais civis, que foi estendida às Câmaras Municipais de mais nove cidades.
“O trabalho que tem sido realizado pelo DISE Guaratinguetá orgulha todos nós por se tratar de uma iniciativa necessária e que é realizada por aqueles que realmente vivenciam o que ensinam para a população”, afirma o presidente do SIPESP, João Batista Rebouças da Silva Neto. “Parabéns pela iniciativa”.
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