Também foram abordadas preocupações com a reforma da previdência e com a precarização dos agentes de segurança pública

Nesta terça-feira, 26, o SIPESP organizou o Ciclo de Debates “A integração das polícias e a importância das entidades de classe neste contexto”, que reuniu autoridades e representantes da segurança pública de São Paulo – Araraquara, Ribeirão Preto, Assis, Lins, Vale do Paraíba -, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, deputados e civis para debater o futuro das polícias e buscar o fortalecimento da categoria.

O evento teve início com a exibição do vídeo do palestrante Charles Saba, que deixou uma mensagem sobre a atuação do sindicato, os benefícios e curso de tiro virtual oferecido pela entidade para os policiais. Confira aqui: https://www.youtube.com/watch?v=SxafGFY7-Lc&t=27s

Carlos Giannazi (PSOL) alerta para os perigos da reforma da previdência

Responsável pela abertura do evento, o deputado do PSOL, Carlos Giannazi começou seu discurso relembrando a greve de 2008 da Polícia Civil, um momento histórico para a categoria. “O presidente Rebouças foi o mentor desse encontro, ele me ligou solicitando o espaço e falou sobre a importância desse encontro na Assembleia legislativa. Eu o conheço há muitos anos, é militante da causa, ele sempre fez a defesa dos servidores da segurança pública. Participou de vários movimentos históricos, principalmente, naquela greve de 2008, que completou agora dez anos. Foi um grande movimento da Polícia Civil de São Paulo”, recordou.

Giannazi lamentou os desvios de função enfrentados pelos policiais paulistas. “Em geral, estão sempre com os salários arrochados, defasados e ainda trabalham em condições extremamente precarizadas”.

A falta de efetivos é uma realidade muito debatida dentro do Sindicato e na qual o deputado também mostrou preocupação. Uma das prerrogativas essenciais, para Giannazi, é a valorização dos servidores, que estão na linha de frente de combate ao crime. “Vocês saem de casa sem saber se voltam para casa. Então vocês devem ter uma remuneração digna, satisfatória e um trabalho que seja realizado com condições básicas. Essa tem sido a nossa luta, não só por palavras, mas através de projetos de lei, denúncias, acionando o Ministério Público, as comissões permanentes da Assembleia, a Secretaria de Segurança Pública, mas, sobretudo, apresentando emendas ao orçamento”, afirmou.

Com relação à PEC 6, um projeto do Governo Federal, Giannazi demonstrou uma preocupação ainda maior. Segundo ele todos os trabalhadores serão afetados negativamente, já que terão dificuldade em acessar a aposentadoria. “Hoje, a situação é grave. Ela vai atingir a aposentadoria dos servidores também. Vai acabar a aposentadoria especial para todas as categorias”, lamentou. “É uma retirada de direitos trabalhistas, previdenciários e sociais do Brasil”.

De acordo com o deputado, o déficit da previdência é uma farsa, sendo que o que cria déficits no Brasil é a dívida pública, que consome quase metade do orçamento. Um erro, para ele, que está sendo cometido em diversos governos, há muitos anos. “É uma dívida que nunca foi auditada. Essa reforma da previdência foi encomendada por banqueiros, pelas empresas privadas, pelas seguradoras, que querem ganhar dinheiro abocanhando esse recurso e, sobretudo, aumentando o pagamento de juros da dívida pública brasileira”.

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Rebouças pede mais união entre as polícias e mais respeito da sociedade

O presidente do SIPESP, João Batista Rebouças da Silva Neto, salientou as lutas antigas do Sindicato, que englobam a integração da Polícia Civil com a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana. “Se não houver união, integração e se não lutarmos conjuntamente contra o crime organizado, infelizmente não teremos organização”, disse. “A união dos policiais tem que se tornar uma realidade em todo o país. Temos que lutar para nos fortalecer”.

Com a crescente desvalorização dos policiais, alimentada pela abordagem dada pela televisão e demais meios de comunicação, Rebouças expressou sua indignação. “Me parece que os bandidos são mais valorizados que os policiais. É nesse estado que vivemos. Não nos dão sequer condições de trabalho para dar um bom atendimento à população, que é quem mais sofre nessa batalha”, lamentou. “Nós não somos interessantes para o estado. Se agimos com dureza, é tortura. Se não agimos, somos corruptos. O que o Estado quer de nós? As nossas vidas? E ainda somos agredidos e ofendidos, especialmente pela mídia. E os errados saem pela porta da frente”.

O presidente do SIPESP também falou sobre a questão da previdência, que é uma preocupação que já é enfrentada pelos policiais civis. “Quando [o policial civil] se aposenta, perde 30% do salário, e ainda tem que brigar para tentar receber o valor total. E o cenário fica ainda pior para a pensionista, que, se não tiver condições de brigar, vai perder ainda mais”, criticou.

“O Estado não faz absolutamente nada por nós. E é por isso que essa união dos policiais é necessária. Temos que estar juntos, fortalecer, nos unir. Nossos inimigos estão lá fora. São eles que precisamos combater para fazer um país melhor”.

“Quando você percebe a deficiência do outro, você ajuda”, afirma o Cel. Cangerana

A palestra do Cel. Francisco Alves Cangerana Neto começou com uma história que levou os presentes a uma reflexão sobre cooperação. “Quando você percebe a deficiência do outro, você ajuda. É uma forma de encarar o que é cooperação e como ela faz parte de um sistema integrado.É entender a parte do outro”, explicou.

O Cel. Cangerana, para explanar a importância da integração entre as polícias, contou uma série de experiências vividas em sua carreira. “Já cumpri muitos mandados de busca com delegado. Eu, pessoalmente, nunca tive problema em DP’s. Sempre procurávamos entender as dificuldades do Distrito”, afirmou.

De acordo com o coronel, no mundo todo são encontradas muitas polícias onde é a cooperação que ajuda a fazer um trabalho bem executado. “Quando você não conhece com quem vai trabalhar, o trabalho é dificultado. Não tem como trabalhar sem estar integrado”.

Para exemplificar, ele citou o carnaval de São Paulo, que tem um dos maiores carnavais do Brasil e é atualmente, o mais seguro do País. “Eu conheço os indicadores, trabalhei na maior parte da minha carreira no policiamento de São Paulo. Esse resultado se deve à integração das polícias, que se conhecem e atuam diante das dificuldades”, explica.

Segundo Cangerana, tudo deve ser pensado como integração e cooperação entre as pessoas, mas sem esquecer da integração de sistemas, um investimento necessário. “Nesse ponto é uma questão física, de liberação de acesso, questão de compartilhar os dados, é questão de gastar dinheiro para investir e fazer a integração de dados”.

“A integração não pode ficar somente nos organismos de segurança”, opina Adelson de Souza
A integração entre as polícias de São Paulo, de acordo com o inspetor superintendente da Guarda Civil Metropolitana, Adelson de Souza, palestrante que substituiu o Secretário de Segurança Urbana do Município, José Roberto Rodrigues de Oliveira, é fácil. “Agora mesmo, no saguão, enquanto aguardávamos o início do evento, tive o prazer de ter diversos amigos se encontrando. Investigadores, escrivães e delegados que tivemos a oportunidade de rever aqui. Isso é integração”, disse.

Souza explicou que a polícia tem atribuições que precisam das outras organizações para que sejam concretizadas. “Precisamos muito da Polícia Civil; precisamos da Polícia Militar, sem dúvida alguma. Temos nessas organizações o conhecimento e a experiência que precisam ser compartilhadas. No entanto, não há organização se não houver retaguarda para o funcionário da organização de segurança. Por isso precisamos ressaltar a importância dos sindicatos. Afinal, são eles que cuidam dos nossos recursos humanos”, afirma.

O inspetor superintendente da GCM contou também que participou da montagem da central de telecomunicações da polícia metropolitana. Em meados de 2010 foi dado início ao desenvolvimento da central da GCM em convênio com o Governo do Estado e com a participação da Polícia Militar, de onde foi tirada a base e com quem a GCM consegue compartilhar ocorrências de atribuições diversas. “Por exemplo: se recebermos uma atribuição específica da PM, podemos repassar para eles e vice-versa”, explicou.

Para Souza, a segurança depende do controle da desordem urbana e isso é atribuição do município. “A falta de segurança começa quando falta a iluminação pública, em determinada rua, onde temos um terreno com mato crescido, onde os meliantes podem se esconder. A segurança é muito mais abrangente. É nesse ponto que eu digo que a integração não pode ficar somente nos organismos de segurança. Tem que envolver a população, envolver os órgãos responsáveis por coibir a desordem pública, e, especialmente, as representações de classe”.

O projeto CityCameras, citado pelo palestrante, congrega hoje mais de 2486 câmeras de pessoas jurídicas e físicas e locais públicos, ligadas a um sistema que pode ser acessado por todas as polícias, sem custo algum. “Isso é integração. Nós entendemos que cada uma das forças a disposição do município, quando atuarem individualmente, devem atuar de forma conversada; e, quando conjuntamente, atuar de forma planejada. É o único modo que nós temos de debelar a ameaça que a população recebe todo dia da criminalidade. Costumamos chamá-los de crime organizado. Mas nós precisamos também ser organizados para fazer frente à ameaça”, finalizou.

Alex Galvão debate a importância das entidades de classe

O Brasil teve, em 2017, 63.895 mortes violentas intencionais; 367 policiais mortos – cerca de 1 por dia. Foi com essas informações que o diretor do Sinpol-DF e 2º vice-presidente da COBRAPOL, Alex Galvão, começou sua palestra. “É praticamente um país em guerra quando a gente pensa em mortes violentas”.

Os números, de acordo com Galvão, mostram que os sindicatos devem defender sua categoria, mas, além disso, tem um papel além: o de buscar soluções pensando na sociedade como um todo. “Faço parte do Cobrapol e visitamos diversos estados tentando entender a realidade de cada um”, disse.

No Distrito Federal, as leis são debatidas na Câmara Federal e os policiais podem participar dos debates dentro do Congresso. Galvão contou que, certa vez, um deputado colocou uma situação coerente. “Ele disse que tentamos, todo o tempo, criar soluções que muitas vezes não resolvem o problema, porque procuramos uma solução imediata. Temos remendos o tempo inteiro e não resolvemos a questão da segurança”, contou.

Segundo o diretor do Sindpol-DF, quando se fala de interação operacional, como colocado por outros palestrantes, talvez o fenômeno dos Whatsapp tenha criado automaticamente uma maior ligação entre as polícias. “Eu mesmo tenho um grupo no meu bairro de policiais. As relações interpessoais são muito maiores. E, enquanto entidade, dirigente, temos que fomentar essa interação”, sugeriu.

Galvão afirma que a leitura de que o Sindicato só serve para fazer greve é errada. Para ele, o sindicato hoje é uma entidade que representa uma categoria. “Hoje, como representante de classe, não consigo ver nossas entidades não trazendo para a sociedade o debate de melhoria na prestação de serviço de segurança pública”, ressaltou.

“A gente percebe que todos aqueles candidatos nas últimas eleições que tiveram a segurança pública como carro-chefe, tiveram resultados expressivos. Espero que em 4 anos haja melhora do serviço”, falou. “A polícia brasileira hoje parece com a polícia americana há 100 anos. Não era valorizada, não tinha carreira adequada, a sociedade não reconhecia, e isso começou a mudar quando surgiram as entidades de classe para valorizar a carreira. Atualmente o policial lá tem o reconhecimento da sociedade. E nós precisamos recuperar esses 100 anos em pouco tempo”.

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Palestrantes recebem homenagem do SIPESP

O advogado Wilson Rangel, cerimonialista do evento na ocasião, agradeceu a presença do presidente Rebouças, da diretoria e dos presentes, que possibilitaram a realização do Ciclo de Debates. A diretora do departamento jurídico, Maria Helena Torres, uma das organizadoras do evento, foi responsável pela entrega das placas comemorativas. “Senhores debatedores, recebam esta singela homenagem do SIPESP como reconhecimento e gratidão de vossas participações”.

Também compareceram ao evento o Inspetor Superintendente Wilson Aparecido Prates, representando o Comandante Geral da Polícia Metropolitana, Carlos Alexandre; Jorge Leal, presidente do Sindpol-ES; Márcio Araujo da Silva, diretor do SINPOL-MG; Sueli de Barros Domonte, diretora dos aposentados do SINPOL-DF; a presidente da PAULISERV, Ana Palermo; o deputado estadual Antônio Carlos da Silva Junior; Marcio Garcia, presidente do Sindpol-RJ; os inspetores superintendentes Ailton Rodrigues de Oliveira, Luiz Camargo, José Aparecido César Filho, Wilson Dantes de Almeida, Genildo Batista de Souza, o subinspetor Marcos Aparecido Custódio, Ronaldo Torga, os CE Adriano Souza e Fabio Correa, Comandante Miguel Rocha, o Inspetor de Divisão Cícero Alves da Silva, Marlene, da CONSEG da Vila Prudente, além do vice-presidente do SIPESP, Manuel Borges de Miranda; do diretor financeiro, Vladimir Dina Convento; da diretora financeira-adjunta, Aparecida Regina Loureiro; do diretor de Relações Públicas e Sind. Adjunto, Agnaldo Luzia; do diretor jurídico-adjunto, João Carlos Pavão de Paiva; do diretor Social, José Mário Evangelista; do Diretor de interiorização Maurício Roberto do Amaral; e do presidente suplente do conselho fiscal, Joraci de Campos.